TEMÁTICAS TRATADAS AQUI

SÃO TANTOS OS TEMAS IMPORTANTES E INTERESSANTES NA ÁREA... SE NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2012 PROPUS UM RECORTE EM TORNO DA ALFABETIZAÇÃO/ LETRAMENTO, DE SETEMBRO 2012 A FEVEREIRO 2013 A QUESTÃO FOCAL FOI A PRIMEIRA INFÂNCIA. ASSIM SENDO, A PARTIR DE ENTÃO O PAPO VAI SER OUTRO... TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO - PODE? APROVEITEM! =)



quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Abrindo o debate sobre o ambiente formativo na escola


O Projeto Político Pedagógico (PPP) de uma escola reflete sua identidade, isto é, seus modos de ser, agir, pensar e existir; suas finalidades e metas; objetivos e estratégias. Entendido assim, o PPP é composto por um conjunto de normas e princípios orientadores de suas ações cotidianas e, para que possa iluminar fielmente a diversidade de olhares e vozes da comunidade escolar, sua execução/ revisão deveria acolher a participação dos seus diferentes atores sociais: pais, crianças, professores, gestores, funcionários, comunidade circunvizinha. Se o objetivo maior da instituição escolar é favorecer a aprendizagem significativa das meninas e meninos que a frequentam, cabe ao PPP debruçar-se sobre estas expectativas de aprendizagem e traçar meios de as crianças aprenderem com toda a diversidade e adversidade presentes. Portanto, ao estruturarmos um programa de alfabetização/ letramento temos que ter em mente que a escola não é apartada da vida; e que sua função não se encerra nela mesma e, assim, nosso desafio como sistema/ rede de ensino e/ou como escola é sempre sublinhar a importância do conhecimento para a melhoria da vida dos sujeitos aprendizes.

Neste sentido, infraestrutura, recursos didáticos e formação de professores são alguns dos aspectos do PPP que merecem nossa especial atenção, e por isso, vou abordá-los mais detidamente aos poucos neste BLOG, de maneira separada... Começo, então, pela infraestrutura.

Se, como já mencionado, o PPP da escola deve traduzir sua identidade, uma vez que a escola assuma o Ciclo da Alfabetização, ela tem que se preocupar em estruturar e consolidar um ambiente formativo – e este implica, necessariamente, em um espaço acessível, inclusivo, com oferta quantitativa de material e equipamentos variados e de qualidade. Entretanto, é importante compreender que o ambiente formativo de uma escola não se esgota no material específico ofertado, mas passa pelo espaço físico, sua organização, o mobiliário, os materiais diversos – tudo isso compõe o ambiente escolar.

Vera Ireland coordenou uma pesquisa pelo MEC/UNESCO, que publicou em 2007, intitulada Repensando a escola: um estudo sobre os desafios de aprender, ler e escrever. Ela foi realizada em 2003 abrangendo todo território brasileiro, e apontou que as salas de aula não são descritas como locais atraentes às crianças. Isto ganha importância aqui, pois o Ciclo da Alfabetização, para ser bem implementado e consolidado, requer a estruturação de espaços físicos que viabilizem, tanto propostas individuais, quanto em pequenos e grandes grupos; de espaços que congreguem as diversas identidades infantis ali presentes, fomentando a percepção de pertencimento nas meninas e meninos da sala; de espaços que favoreçam o desenvolvimento da expressão autônoma e autoral de todos os sujeitos nele envolvidos em suas múltiplas linguagens – em outras palavras: espaços que se constituam em ambientes formativos e acessíveis.

Buscando esmiuçar melhor este trecho supracitado, começo abordando a questão do espaço em si. Quando focamos na esfera mais específica da alfabetização/ letramento, é quase senso comum apregoar que a criança deve estar, desde a mais tenra idade, imersa no mundo letrado. Mas que seria, afinal, este mundo letrado ou ambiente alfabetizador? Logo no início do BLOG, ainda em fevereiro, fiz um post sobre isso... Lembram?

Quando falo de ambiente alfabetizador, digo de um espaço que esteja impregnado do material impresso que nos envolve cotidianamente, explicitando a função social da escrita: desde livros de literatura, revistas em quadrinhos, jornal e bula de remédio, até painéis de propaganda, embalagens de produtos, etiquetas de roupas, ou multas de carro... As palavras e letras, textos em prosa e verso, estão espalhados em diversos suportes e veículos, e a todo o momento nos provocam, informam, escandalizam, emocionam, aproximam, entristecem, ensinam... Entre tantas outras possibilidades. Colocar a criança em estreito contato com o mundo da leitura é ampliar e qualificar seu acesso a todas as variadas formas de escrita.

E como temos visto isso traduzido nas práticas pedagógicas? Os espaços escolares estão repletos de mensagens visuais de caráter educativo/ pedagógico. Quando focamos na perspectiva da alfabetização/ letramento, deparamo-nos com os chamados Alfabetários e seus derivados: cartazes ou similares que mostram as letras ou encontros vocálicos, sílabas e palavras, ilustrados, ou não. Entendidos como recurso pedagógico importante para as crianças em seus processos de apropriação e produção da escrita, parecem estar incorporados de forma naturalizada às salas de aula. E todo elemento cultural que se quer transformar em natural deve ser aqui problematizado: serão estes alfabetários e seus derivados instrumentos de apoio, ou de fragmentação de aprendizagem, na medida em que isolam letras, sílabas, palavras ou encontros vocálicos e os descontextualizam de sua função social na escrita? Serão os alfabetários e seus derivados elementos de apoio, ou de reforço à cópia e ao reducionismo imagético, na medida em que trazem muitas ilustrações marcadamente estereotipadas, como mostram os exemplos a seguir?
 

 
 
 


Ou, ainda, será o alfabetário um elemento de apoio, ou veículo de ampliação de vocabulário descontextualizado? Em outras palavras, um cetáceo característico do Círculo Polar Ártico, como o narval, deve ser mote para as crianças aprenderem palavras com a letra "N"?
Estes exemplos acima, de alfabetários e seus derivados são, em sua maioria, adquiridos pelos professores por “vendedores ambulantes” que vão às escolas, ou ainda em revistas “educativas” vendidas em bancas de jornal.

Na realidade, não é o alfabetário por si que é bom ou ruim; mas, sobretudo, a forma como ele é estruturado e o uso que se faz dele. Vejamos os exemplos abaixo, de alfabetários construídos coletivamente através de palavras, imagens, fotos, nomes de meninos e meninas da turma, e rótulos escolhidos pelas próprias crianças, alunas da EMEF Guido A. Lermen, em Lajeado (RS)...

 

... e outro criado a partir dos nomes das meninas e meninos alunos de uma turma da EM Said Albeny, em Coronel Fabriciano (MG), que fizeram seus próprios autoretratos:
 

A pergunta que se faz pertinente seria: o que as escolas estão disponibilizando em seus ambientes para ampliar e qualificar o universo letrado das crianças do Ciclo da Alfabetização?

Na próxima 4f continuamos esta discussão ainda pela identidade visual das paredes escolares, ok? Aproveitem para dar seus depoimentos e opiniões sobre esse assunto! =)

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